Em 2020, apesar da forte contração económica provocada pela pandemia, o rendimento médio por adulto equivalente subiu em termos reais 3,3%, passando de 1058 euros mês para 1093 euros. O rendimento mediano teve um comportamento similar passando de 900 para 924 euros mês. Este crescimento não se refletiu, porém, sobre todas as famílias. De acordo com os dados publicados pelo INE o valor do percentil 10 (a fronteira que separa os rendimentos dos 10% mais pobres das restantes famílias) diminuiu cerca de 7% evidenciando uma forte retração do rendimento das famílias mais vulneráveis.
Fonte: INE ICOR 2011-2021
Nota: Valores a preços de 2020.
Em 2019, último ano para o qual o Eurostat disponibiliza informação acerca do rendimento médio de praticamente todos os países da União Europeia (UE), o rendimento médio mensal por adulto equivalente das famílias portuguesas foi de 1058 euros. Portugal era, antes dos efeitos da crise económica e social provocada pela pandemia, o 11º pais com rendimento mais baixo do conjunto dos países da União Europeia.
Fonte: Eurostat EU-SILC 2020. Eurostat database, informação recolhida em 03/12/2021
Nota: Valor de Itália (2018)
Em 2020 o coeficiente de Gini sofreu um agravamento de 1,8 pontos percentuais, fixando-se no valor de 33.0%.Como consequência dos efeitos sociais desiguais da pandemia a tendência de descida do coeficiente de Gini iniciada em 2014 foi assim interrompida. Este agravamento do coeficiente de Gini constituiu igualmente a maior variação deste indicador de desigualdade verificada num único ano desde 2003.
Fonte: INE - ICOR 2004-2021
Uma outra forma de olhar para a evolução da desigualdade é confrontando a distância que separa o rendimento médio dos indivíduos na base da escala de rendimento com o daqueles que se situam no topo dessa escala. Os índices S80/S20 e S90/S10 permitem-nos aferir da desigualdade entre os extremos da distribuição do rendimento por adulto equivalente. A evolução destes indicadores é similar à observada para o coeficiente de Gini. Em 2020, o rendimento médio por adulto equivalente dos 10% mais ricos era cerca de 9,8 vezes superior à dos 10% de menores rendimentos.
Fonte: INE ICOR 2004-2021
De 29% a 30%
De 30% a 31%
De 31% a 32%
De 32% a 33%
Superior a 33%
33,0%
O nível de desigualdade, medido pelo coeficiente de Gini, varia entre as várias regiões do País. A Região Centro com um valor de 33,3% era a região com maior assimetria na distribuição dos rendimentos. Constitui igualmente a região onde se verificou um maior agravamento da desigualdade (3,3 pontos percentuais) Comparativamente ao ano de 2019 a desigualdade aumentou em todas as regiões com exceção da região autónoma dos Açores onde se registou um desagravamento da desigualdade de 1,5 pontos percentuais. Esta região autónoma, que em 2019 apresentava o nível mais elevado de desigualdade regista em 2020 um coeficiente de Gini que é idêntico ao do conjunto do território nacional.
Fonte: INE ICOR 2021
De 20% a 24%
De 24% a 27%
De 27% a 29%
De 29% a 31%
De 31% a 33%
De 33% a 35%
De 35% a 40%
31,2%
Em 2019, Portugal era o oitavo país mais desigual da União Europeia com um coeficiente de Gini de 31,2%.
Fonte: Eurostat EU-SILC 2020. Eurostat database, informação recolhida em 03/12/2021
Nota: Valor de Itália (2018)
Os efeitos socioeconómicos provocados pela pandemia e pela contração da atividade económica repercutiram-se fortemente nos rendimentos dos indivíduos e das famílias de menores rendimentos e teve um impacto expressivo na incidência da pobreza monetária. A taxa de pobreza subiu cerca de 2,2 pontos percentuais, passando de 16,2% em 2019 para 18,4% em 2020. Este agravamento da incidência da pobreza foi o maior registado nas ultimas duas décadas num único ano e correspondeu a um acréscimo de cerca de mais 228 mil pessoas em situação de pobreza.
Em 2020, a intensidade da pobreza (que avalia quão pobres são os pobres) subiu cerca de 2,7 pontos percentuais, de 24,4% para 27,1%, traduzindo assim que a situação da população igualmente se agravou face ao ano anterior.
Fonte: INE ICOR 2004-2021
De 12% a 14%
De 14% a 16%
De 16% a 18%
De 18% a 20%
De 20% a 22%
De 22% a 24%
De 24% a 26%
18,4%
O agravamento da incidência da pobreza ocorrido em Portugal em 2020 repercutiu-se, ainda que com diferentes intensidade, em todas as regiões do Continente. O Algarve registou o maior incremento da sua taxa de pobreza (mais 3,9 pontos percentuais) seguido da região Centro (mais 3,3 p.p.) e da região Norte (mais 3,0 p.p.). Comportamento inverso registou-se nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, as regiões com maior incidência da pobreza onde se verificou um desagravamento das respetivas taxas de pobreza (menos 6,6 p.p. na Região Autónoma dos Açores e menos 2,1 p.p. na Região Autónoma da Madeira). Apesar desta diminuição da pobreza registada nas regiões autónomas é nestas duas regiões que se continua a verificar os maiores níveis de incidência da pobreza.
Fonte: INE ICOR 2021
A proporção de crianças e jovens vivendo em situação de pobreza atingiu, em 2020, o valor de 20,4%, tendo-se registado um acréscimo de 1,3 pontos percentuais face ao verificado no ano anterior. Na população idosa a incidência da pobreza registou um acréscimo mais expressivo de 2,6 pp, fixando-se em 2020 nos 20,1%.
Ainda que o acréscimo da incidência da pobreza nestes dois grupos etários tenha acompanhado o agravamento do aumento da taxa de pobreza do conjunto da população os níveis de aumento da taxa de pobreza parecem apontar para um efeito menos significativo na população jovem e um acentuar pronunciado da pobreza dos idosos. Neste ultimo caso, e tendo em conta a não alteração da sua principal fonte de rendimento (as pensões) uma explicação possível é a de que o aumento do limiar de pobreza desempenhou aqui um papel importante.
Fonte: INE ICOR 2004-2021
De 9% a 11%
De 11% a 13%
De 13% a 15%
De 15% a 16%
De 16% a 18%
De 18% a 20%
De 20% a 24%
17,1%
17,3%
16,2%
No período imediatamente anterior aos efeitos socioeconómicos da pandemia (2019), Portugal apresentava uma taxa de pobreza ligeiramente inferior ao valor médio da União Europeia. A incidência da pobreza no nosso país (16,2%) era 0,9 pontos percentuais inferior à da média da UE (17,1%) e 1,3 p.p. inferior à média da zona euro (17,3%).
Fonte: Eurostat EU-SILC 2020. Eurostat database, informação recolhida em 03/12/2021
Nota: Valor de Itália (2018)
O agravamento da incidência da pobreza registado em 2020 refletiu-se em todos os grupos etários que viram a sua taxa de pobreza subir. O aumento da pobreza das crianças e jovens foi, no entanto, menor do que nos indivíduos em idade adulta. Apesar disso as crianças e jovens permanecem como o grupo etário onde se regista uma maior incidência da pobreza (20,4%).
Fonte: INE ICOR 2021
A análise da incidência da pobreza por tipo de família permite identificar os núcleos familiares mais vulneráveis à pobreza monetária. Em 2020 as famílias com crianças registaram um agravamento da pobreza superior ao das famílias sem crianças (2,7 pp e 1,8 pp, respetivamente). As famílias monoparentais e as famílias com três ou mais crianças dependentes eram as que apresentavam taxas de pobreza mais elevadas (30,2% e 29,4%, respetivamente) apesar de este ultimo grupo ter registado um decréscimo da sua taxa de pobreza muito significativo. O maior agravamento da incidência da pobreza ocorreu nas famílias monoparentais (+ 4,7 pp) confirmando o elevado nível de vulnerabilidade destas famílias. Igualmente expressivo é o aumento da taxa de pobreza das famílias constituídas por dois adultos em que pelo menos um deles tem 65 e mais anos (+ 3,5 pp), reafirmando o agravamento já referido da incidência da pobreza nos idosos.
Famílias sem crianças (17,2%)
Famílias com crianças (19,7%)
Fonte: INE ICOR 2021
A população em situação de desemprego é um grupo social extremamente vulnerável às situações de pobreza. A incidência da pobreza deste grupo aumentou 5,8 pp, passando de uma taxa de pobreza de 40,7% em 2019 para 46,5% em 2020, reforçando a sua posição como um dos grupos com maior taxa de pobreza entre a população portuguesa. O desemprego permanece, assim, um dos principais fatores de pobreza.
A proporção da população empregada em situação de pobreza aumentou de 9,6% para 11,2%. A existência de uma percentagem tão expressiva de indivíduos que apesar de terem emprego não conseguem evitar a situação de pobreza não pode deixar de constituir um dos fatores mais preocupantes da situação social do país.
A incidência da pobreza da população reformada aumentou igualmente, passado de 15,7% em 2019 para 18,0% em 2020.
Fonte: INE ICOR 2021
O sistema estatístico europeu procedeu a uma revisão dos indicadores de privação no âmbito do sistema de monitorização social da estratégia Europa 2030. Os anteriores nove indicadores de privação material foram alargados, sendo agora constituídos por treze indicadores de privação material e social.
De forma a assegurar a comparabilidade destes novos indicadores o INE recalculou as estimativas de privação material e social desde o ano de 2016.
Em 2021 quer o indicador de privação material e social quer o de privação material e social severa registaram um agravamento, contrariando a tendência de descida destes índices que se registava desde 2016.
Fonte: INE ICOR 2021
Nota: Novo indicador do Eurostat no âmbito no âmbito da estratégia Europa 2030
A comparação dos valores de 2020 e de 2021 dos treze indicadores de privação material e social adotados pelo sistema estatístico europeu no âmbito da estratégia 2030 permite evidenciar quais os itens em que a privação das famílias é mais fortemente sentida neste período de crise económica e social. Possibilitam, igualmente, antever em relação a alguns indicadores um desagravamento da situação de 2021 comparativamente a 2020.
Entre os indicadores que traduzem uma situação de vulnerabilidade material e social mais elevada em 2021 destacam-se: 37,9% dos indivíduos declara não possibilidade de substituição do mobiliário usado (38,2 em 2020); 36,6% não têm capacidade para pagar uma semana de férias, por ano fora de casa (38,0% em 2020); 31,1% dizem que não têm capacidade para assegurar o pagamento imediato de uma despesa inesperada próxima do valor da linha de pobreza (39,7% em 2020); 16,4% declaram não disporem de capacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida (17,4% em 2021).
Pelo profundo impacto social que apresenta saliente-se ainda que 6,9% dos inquiridos no inquérito do INE revelam possuir atrasos, motivado por dificuldades económicas, em algum dos pagamentos regulares relativos a rendas, prestações, créditos, etc. Em 2020, este valor de 5,4%).
Fonte: INE ICOR 2021
Nota: Novo indicador do Eurostat no âmbito da estratégia Europa 2030
Utilizando o novo indicador de privação material e social severa adotado pelo Eurostat é possível ver que em 2020 o valor assumido por Portugal (5,4%) era ligeiramente inferior ao verificado na zona euro (6,1%) e 1,4 pontos percentuais inferior ao verificado no conjunto da União Europeia (6,8%).
Fonte: Eurostat EU-SILC 2020. Eurostat database, informação recolhida em 03/12/2021
Nota: Novo indicador do Eurostat no âmbito da estratégia Europa 2030
Nota: Valor de Itália (2019)
A taxa de pobreza ou de exclusão social é um indicador síntese utilizado pelo sistema estatístico da União Europeia no âmbito da estratégia Europa 2030 para caracterizar as famílias e as pessoas que se encontram em pelo menos uma das três situações seguintes: em situação de pobreza monetária; em situação de privação material e social severa; em situação de afastamento do mercado de trabalho, traduzida no facto de, num dado agregado, os indivíduos adultos entre os 18 e os 59 anos trabalharam em média menos de 20% do tempo de trabalho possível (baixa Intensidade laboral).
Em 2021, 2,3 milhões de pessoas (22,4% da população) encontravam-se em situação de pobreza ou de exclusão social em Portugal. Este valor, superior ao verificado em 2020 (20,0%), revela que mais de um quinto da população vive em situação de pobreza ou de exclusão social.
Fonte: INE ICOR 2021
Nota: Novo indicador do Eurostat no âmbito da estratégia Europa 2030
A forma como as três dimensões (taxa de pobreza, privação material severa e baixa intensidade laboral) da exclusão social se inter-relacionam e se intersetam pode ser ilustrada no gráfico abaixo. Em 2020, 2,1 milhões de pessoas encontravam-se em situação de pobreza ou exclusão social, 1,66 milhões em situação de pobreza e 550 mil em privação material severa. Cerca de 1,6 milhões de pessoas eram afetadas por uma dimensão da exclusão social, 347 mil por duas dimensões e 96 mil pelas três dimensões em simultâneo.
População em situação de Pobreza: 1,66 milhões
16,2%População em situação de Privação Severa: 550 mil
3,3%População em Agregados de Baixa intensidade Laboral: 380 mil
3,7%População pobre, mas que não está em privação nem tem baixa intensidade de trabalho 12,1%
População pobre, que está em privação mas não tem baixa intensidade de trabalho 1,9%
População não pobre, que está em privação mas não tem baixa intensidade de trabalho 2,3%
População não pobre, que não está em privação mas tem baixa intensidade de trabalho 1,3%
População pobre, que não está em privação mas tem baixa intensidade de trabalho 1,2%
População não pobre, que está em privação e tem baixa intensidade de trabalho 0,2%
População pobre, que está em privação e tem baixa intensidade de trabalho 0,9%
População em situação de Pobreza ou Exclusão Social: 2,1 milhões
da População Total
Fonte: Eurostat EU-SILC 2020. Eurostat database, informação recolhida em 03/12/2021
Nota: Novo indicador do Eurostat no âmbito da estratégia Europa 2030
Utilizando o novo indicador de pobreza e exclusão social subjacente à estratégia Europa 2030 é possível observar a posição relativa dos vários países da União Europeia em 2020. A taxa de pobreza ou de exclusão social em Portugal (20,0%) era ligeiramente inferior à verificada no conjunto da União Europeia (21,9%) e dois pontos percentuais inferior à da zona euro (22,0%).
Fonte: Eurostat EU-SILC 2020. Eurostat database, informação recolhida em 03/12/2021
Nota: Novo indicador do Eurostat no âmbito da estratégia Europa 2030
Nota: Valor de Itália (2019)
A importância das prestações sociais na redução da incidência da pobreza surge claramente evidenciada neste gráfico. Tomando como referência o ano de 2020, é possível verificar que a incidência da pobreza no conjunto da população foi de 18,4%, mas que, mantendo inalterado o montante em euros que define a linha de pobreza e subtraindo ao rendimento disponível das famílias, as transferências sociais relacionadas com a doença e incapacidade, família, desemprego e inclusão social, a incidência passaria para 23,0%. As transferências sociais possibilitam, assim, uma redução da incidência da pobreza em 4,6 pontos percentuais. Este efeito redutor da pobreza das transferências sociais sofreu, no entanto, uma diminuição expressiva face ao verificado no ano de 2019. De igual forma, é possível verificar o impacto das pensões na redução da incidência da pobreza. Essa redução é de 20,5 pontos percentuais, sendo notória a importância desta fonte de rendimento nos recursos das famílias.
Fonte: INE ICOR 2004-2021