O impacto direto da crise no mercado de trabalho traduziu-se, entre outras coisas, numa descida dos salários. Ainda que, em termos nominais (sem contar com a inflação), o ganho médio dos trabalhadores por contra de outrem tenha subido de 1036 euros para 1093 euros mensais, entre 2009 e 2014, essa diferença representa uma descida real de 2,4%. Como? É que esse valor a mais não chega para compensar a inflação ao longo destes anos. E, além disso, também os funcionários públicos sofreram uma descida dos salários nesse período.
Mesmo os trabalhadores que se conseguiram manter na mesma empresa durante este período foram afetados por cortes salariais. Foi essa a conclusão de um estudo do Banco de Portugal sobre dinâmicas salariais com base nas remunerações declaradas à Segurança Social em 2011 e 2012. No caso das empresas onde houve rotação de trabalhadores, a remuneração média dos que entraram em 2012 foi 11% mais baixa do que a dos trabalhadores que saíram em 2011. Assim, os trabalhadores começaram a perder poder de compra em 2010, pela primeira vez desde 1985, conclui o estudo.
Os salários em Portugal são, tendencialmente baixos. Por exemplo, em 2009, um em cada cinco trabalhadores por conta de outrem (20%) recebiam mensalmente menos de 700 euros pelo seu trabalho.
Essa proporção já era maior em 2014: quase um em cada três trabalhadores por conta de outrem (29%) recebia menos de 700 euros por mês. E os números mostram ainda que 8% de todos os trabalhadores por conta de outrem viviam abaixo do limiar de pobreza. E a par de todas estas situações, estão os casos de trabalho precário, como a falsa prestação de serviços (os chamados falsos recibos verdes).
Os dados mostram que os trabalhadores mais jovens viram o seu ganho médio reduzir-se em cerca de um terço (-31%), sendo esta uma redução quase cinco vezes a verificada no conjunto dos ganhos de todos os trabalhadores (-6,3%). "A forte queda do ganho dos trabalhadores mais jovens revela-se, assim, como a característica mais marcada das alterações ocorridas no mercado de trabalho em termos da idade dos seus participantes", explica o estudo.
E entre as mulheres e os homens continua a haver desigualdade. Enquanto os salários dos homens sofreram uma redução de 1,5% entre 2009 e 2014, os das mulheres diminuiu 10,5%. "Também aqui foi o grupo de menores rendimentos que foi mais afetado pela crise e pelas medidas de austeridade que penalizaram fortemente os ganhos salariais femininos."